Ivo de Magalhães
ENSINARAM-NOS OS Evangelistas, por intermédio da extraordinária mediunidade da Senhora Collignon, que até mesmo os puros Espíritos são dotados de perispírito, porém de natureza bem diversa daquele que reveste o Espírito dos materialmente encarnados.
Lemos, com efeito, na obra comumente denominada "Os Quatro Evangelhos", publicada por Jean-Baptiste Roustaing, a seguinte revelação:
"O perispírito dos Espíritos puros (o grifo é nosso) é, por sua sutileza, de natureza muito diversa, pelo que toca à atração, da do perispírito dos materialmente encarnados, o que lhes torna impossível aderirem à matéria do corpo humano."
Já antes, era-nos dito:
"O aparecimento de Jesus na terra foi uma aparição espírita tangível. O Espírito tomou - segundo as leis naturais que vos acabamos de explicar - todas as aparências do corpo. O perispírito que o envolvia (o grifo é nosso) foi feito mais tangível..."
Portanto, Jesus, Espírito puro, para o cumprimento de sua missão terrena, dera mais tangibilidade cio seu perispírito, bastando-lhe, para tanto, atrair a si os fluidos ambientes necessários, conforme adiante se verá.
Esse ensinamento trouxe, bem o sabemos, alguma preocupação a estudiosos da Doutrina Espírita, pelo fato de haver Bezerra de Menezes, ao tempo em que entre nós ainda se encontrava, declarado
"Os anjos, porém, que já não têm perispírito, porque são puros Espíritos, precisam tomar, na ocasião, no infinito seio do fluido universal, o que os revisa e os torne visíveis."
Na verdade, porém, não há contradição alguma - nem seria lícito admitir que houvesse - entre o que nos revelaram os Evangelistas, na obra publicada por Roustaing, e o que, para o matutino "O Paiz", escreveu Bezerra de Menezes, sob o pseudônimo Max, em magnífico artigo reproduzido no "Reformador" de março do ano passado.
O grande apóstolo do Espiritismo no Brasil estava justamente aludindo a inúmeros casos, registrados pela História Sagrada, de anjos (Espíritos puros) baixados a Terra em missão, para tanto retirando do fluido universal o que os revestisse e os tornasse visíveis, como bem explicado está em "Os Quatro Evangelhos", onde nos é revelado ainda:
"O perispírito pode, com propriedade, ser qualificado de semimaterial, em razão de que, de si "mesmo fluídico, pode materializar-se à vontade. É, com relação "à vossa matéria, o que é o vapor "com relação .à água: matéria tênue, porém matéria, capaz de, em dada ocasião, tomar a aparência "de matéria compacta. Não lograreis, repetimos, compreender a natureza dessa parte do vosso ser, senão quando a vossa inteligência se houver desenvolvido bastante "para sondar as profundezas do "éter que vos cerca."
Que lição sublime! E com que sabedoria nos é ela ministrada! Aprendemos, assim, que o perispírito é "de si mesmo" fluídico, mas pode ser qualificado de semimaterial pela propriedade que possui de se materializar à vontade. Compreendemos, então, que, não necessitando de contactos materiais, como no caso dos puros Espíritos (quando não baixados em missão, evidentemente), o perispírito, perdendo tudo quanto de material nele se pode conter, torna-se de tal forma espiritualizado, digamos assim, que passa a se confundir, digamos assim também, com o próprio Espírito.
E é precisamente isso que se depreende das seguintes explicações
"Somente o Espírito puro, não "mais sujeito a encarnação alguma "em qualquer planeta que seja, por "já haver atingido a perfeição sideral, dispõe de todos os fluidos, como possuidor que é de uma ciência completa, goza de inteira liberdade e independência e tem a consciência exata da sua origem, seja qual for o perispírito ou corpo "fluídico que tome e assimile às regiões que percorra."
"Jesus houvera podido, unicamente por ato exclusivo da sua vontade, atraindo a si os fluidos ambientes necessários, constituir o perispírito ou corpo fluídico tangível que vestiu para surgir no vosso mundo sob o aspeto de uma criancinha."
Destarte, não nos é difícil compreender que Bezerra de Menezes, quando disse não mais terem perispírito os anjos (puros Espíritos), queria, evidentemente, aludir encarnado que ainda se achava entre nós - ao mediador plástico tal como o possuímos, isto é, semimaterial, enquanto os Evangelistas, dizendo-nos que os Espíritos puros também são dotados de perispírito, aludiam, é igualmente evidente, a um envoltório etéreo, composto unicamente de fluidos espirituais, que não perde, contudo, a propriedade de se materializar mais ou menos intensamente, quando necessário, para tanto tomando esses Espíritos, "na ocasião, no infinito seio do fluido universal, o que os revista e os torne visíveis", como Bezerra de Menezes bem salientou.
Estabelecida está, portanto, segundo nos parece, não uma discordância, mas sim uma perfeita identidade entre os ensinamentos contidos em "Os Quatro Evangelhos" e a explicação de Bezerra de Menezes acerca do perispírito dos Espíritos puros. E nem poderia ser de outra maneira, sabido como é haver sido precisamente o "Kardec brasileiro" quem considerou "preciosa e sagrada" a obra publicada por Roustaing e fê-la, quando Presidente da FEB, reproduzir integralmente no "Reformador".
Essa identidade, aliás, está plenamente sancionada pelo Codificador. De fato, em "O Livro dos Espíritos", faz Allan Kardec a seguinte pergunta, de n.° 186:
"Haverá mundos onde o Espírito, deixando de revestir corpos "materiais, só tenha por envoltório "o perispírito ?"
E logo, do Alto, vem a magistral resposta:
"Há e mesmo esse envoltório "se torna tão etéreo que para vós "é como se não existisse. Esse o estado dos Espíritos ,puros" (o grifo é nosso).
Aí está, dada por quem pode, a explicação clara, cabal, lógica: o envoltório dos Espíritos puros existe - é o que está dito na obra publicada por Roustaing -, mas se torna tão etéreo que, para nós, é como se não existisse. É o que disseram a Kardec os Espíritos superiores!
Mais uma vez somos levados a considerar o quanto Kardec e Roustaing se completam e a bendizer a sabedoria do Alto, fazendo baixar à Terra, na mesma época e no mesmo país - a França de tantas tradições espirituais -, muito pertos um do outro, Kardec em Paris e Roustaing em Bordéus, esses dois excelsos missionários, o primeiro para codificar a Doutrina Espírita e o segundo para divulgar, em espírito e verdade, os ensinamentos contidos nos Evangelhos de Jesus, nos quais, em última análise, está fundamentada essa Doutrina!.
Reformador – Fevereiro de 1975
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