Sylvio Ourique Fragoso
Parte IV
Santa Rita de Cássia
Santa Rita de Cássia, conforme vimos no número anterior, produziu também fenômenos de voz direta.
É um fenômeno que difere do de clariaudiência, pois que neste o médium "ouve" o que os Espíritos falam, mas o "som" ouvido não tem objetividade. Trata-se de fenômeno subjetivo. Falando dos médiuns auditivos, Kardec diz que algumas vezes a percepção é de uma voz íntima, que se faz ouvir na consciência, e de outras vezes é uma voz exterior, clara e distinta, como a de uma pessoa próxima. O grande instrutor André Luiz viria, um século depois, complementar essa informação, com riqueza de detalhes, dizendo que pela associação dos raios mentais entre a entidade comunicante e o médium, a audição se faz direta, do exterior para o interior, graduando-se, contudo, em expressões variadas.
Escasseados que estejam nos médiuns os recursos ultra-sensoriais, nasce essa categoria de audição interna, mais intimamente ligada à conjugação de ondas.
Atuando sobre a mente do organismo mediúnico, os Espíritos transmitem-lhe vozes e sons, aproveitando-se dos centros autônomos da audição, localizados no diencéfalo, utilizando-se da cóclea, de forma tão mais perfeita quanto melhor se dê a identidade vibratória, qual se o médium possuísse uma caixa acústica na intimidade do ouvido.
Entretanto, temos visto que em Rita de Cássia prevaleciam os fenômenos de efeitos físicos, e por tal motivo é lícito supor que tenha havido, no caso, uma autêntica "voz direta". Note-se que o fato se deu quando Rita produzia uma materialização.
Este fenômeno, quando feito em sessão regular e com finalidade elevada, exige dos cooperadores espirituais intenso trabalho. André Luiz descreve com pormenores surpreendentes o trabalho da equipe espiritual em uma sessão de materialização. Para a produção de "voz direta", conta-nos o que observou:
"A força nervosa do médium é matéria plástica e profundamente sensível às nossas criações mentais".
"Logo após (o mentor espiritual) tomou pequena quantidade daqueles eflúvios leitosos que se exteriorizavam (...) do aparelho mediúnico, e, como se guardasse nas mãos reduzida quantidade de gesso fluido, começou a manipulá-lo (...) pensando, em absoluto domínio de si mesmo, sobre a criação do momento".
"Aos poucos, vi formar-se sob meus olhos atônitos, um delicado aparelho de fonação. No íntimo do esqueleto cartilaginoso, esculturado com perfeição na matéria ectoplasmática, organizavam-se os fios tenuíssimos das cordas vocais, elástica e completas na fenda glótica (...). Formara-se, ao influxo mental e sob a ação técnica de meu orientador, uma garganta irrepreensível".
"Com assombro, verifiquei que através do pequeno aparelho improvisado (...) nossa voz era integralmente percebida por todos os encarnados presentes (...)".
Assim trabalham as entidades espirituais nos grupos organizados de trabalho mediúnico. Preciso é que não se esqueça, porém, que o fenômeno de "voz direta" tem ocorrido espontaneamente e à revelia dos presentes, mormente nos fenômenos de assombramento. Com maior ou menor assistência do plano espiritual, com menor ou maior apuro tecnológico, o princípio fenomênico é o mesmo, porém.
Produção de perfume
Outro fenômeno bastante conhecido dos que freqüentam sessões de efeitos físicos. Ondas de perfume costumam inundar o ambiente e por vezes a água ali deixada para ser fluidificada assume e conserva o aroma produzido no ambiente. René Sudre não deixa de registrar o fato:
"Home retirou, em várias ocasiões, o perfume das flores, separou o álcool da aguardente, extraiu a essência do limão. Stainton Moses produzia perfumes quer no ar, quer sobre seu corpo".
O mesmo fenômeno, ou por outra, fenômeno ainda mais complexo e mais maravilhoso, foi produzido no Brasil por Otília Diogo, essa médium tão difamada por parte de alguns repórteres que lhe assistiram aos trabalhos e por potências religiosas interessadas em ocultar uma verdade que ainda mais lhes arruinaria os alicerces. Ranieri dá testemunho de um desses fatos (Forças Libertadoras):
"A médium entrou no quarto e dirigiu-se para a criança. A luz do quarto talvez fosse luz de abajur ou uma luz vermelha; o corredor estava com a luz comum acesa".
"Com simplicidade, sem qualquer encenação, Otília iniciou o passe na presença de todos. Quase instantaneamente o quarto e em seguida todo o corredor foram invadidos por um cheiro forte, mas terrivelmente forte, de clorofórmio. (...) Nossas narinas ardiam ainda ao influxo daquele cheiro fortíssimo quando uma onda de perfume de flores, de rosas, percorreu a casa com intensidade (...). O clorofórmio havia desaparecido".
Outros casos poderiam ser citados. Evitemos, porém, prolixidade. O que vimos de narrar basta, cremos, para demonstrar que os fenômenos produzidos por Rita de Cássia nada têm de milagrosos, sendo ocorrências de caráter medianímico que, não obstante notáveis, atestam apenas a glória da imortalidade, não se prestando, por si sós, ao endeusamento de quem, como instrumento, os produziu.
outubro/1979
Nenhum comentário:
Postar um comentário