quinta-feira, 3 de junho de 2010

Materializações

Ismael Gomes Braga

No começo de 1964 a apreciada revista "O Cruzeiro" pôs em discussão pública os fenômenos de materialização de Espíritos. Pela revista, pelo jornal, pelo rádio, pela televisão, esses fenômenos entraram em calorosa e benéfica discussão perante o grande público, quando em via de regra esses fenômenos são estudados somente em pequenas rodas de iniciados. Esta discussão é utilíssima, porque mais cedo ou mais tarde a verdade vence toda a oposição, e a materialização de Espíritos é verdade demonstrada durante cem anos de estudos de sábios.

Como já assistimos a longas séries de sessões de materialização, aproveitamos . a oportunidade para mencionar algumas observações inéditas e que talvez possam interessar aos estudiosos, não aos negadores sistemáticos.

Em todas as nossas sessões os Espíritos que dirigiam os trabalhos exigiam que o médium ficasse bem ligado à poltrona e manietado, alegando que ele correria perigo durante o transe, e quase sempre no fim da sessão nós o encontrávamos exatamente como o deixáramos antes„ porém certa vez houve uma exceção muito chocante.

Deixam0os o médium muito bem ligado pelo tronco, pelos braços e pelas pernas à poltrona, na cabina escura. A sessão correu bem.

Dentro da cabina escura havia uma vitrola com duas pilhas de discos fonográficos. Quando se iniciava a sessão, falando em voz direta de dentro da cabina, o Espírito nos perguntava que disco desejávamos ouvir. Cada um de nós dizia o nome de um disco e ele o procurava nas pilhas, punha na vitrola e o executava, demonstrando assim que via perfeitamente bem no escuro absoluto.

Apareceram diversos Espíritos materializados, todos iluminados, uns mais, outros menos, por sua própria luz. Quando recebemos ordem de fazer a prece final, foi-nos advertido:

"Abreviem o encerramento, porque o médium vai despertar e sentir dores; tivemos que modificar o controle que vocês fizeram."

Abreviamos a prece e corremos para a cabina, porque o médium começara a soltar dolorosos gemidos. Fomos encontrá0lo numa posição incrível: com o tronco dobrado como se não tivesse espinha dorsal; a cabeça entre os joelhos, fortemente atada às pernas, e estas à cadeira. Pela cintura, estava ligado ao espaldar da cadeira. A corda lhe entrava pela carne no pescoço e nos dificultava cortá-la ou desatar os nós.

Ele sofria e gemia profundamente, em grande ansiedade. Finalmente conseguimos cortar a corda do pescoço e libertá-lo daquele sofrimento. Ele não se lembrava de nada que se passara estava em sono profundo quando foi mudado o controle.

As cordas eram as mesmas que havíamos empregado, mas todo o controle que havíamos feito tinha sido substituído por outro, mais apertado e bárbaro.

Ninguém entrara na cabina. Todos eram companheiros honestos, estudiosos sérios. A sessão se realizava num lar amigo, de toda a nossa confiança.

Mesmo admitido que alguém houvesse entrado na cabina, ninguém poderia dobrar assim um corpo humano. Só o puderam fazer os Espíritos, em sono profundo e em parte desmaterializado o corpo do médium.

A desmaterialização parcial ou total do corpo do médium é bem conhecida e foi observada com Miss d'Esperance, Centurione Scotto, Dona Ana Prado e outros médiuns.

Os desconhecedores dos fenômenos se limitam a negar esses fatos, mas, apesar de todas as negações, eles são verdadeiros.

Noutra sessão e com outro médium, o controle era mais severo. A poltrona do médium estava aparafusada ao soalho e ele algemado e fortemente ligado a ela.

Materializou-se um índio gigantesco, com uma força hercúlea. Com sua mão enorme pegou-me na cabeça e a torceu, quase a deslocando do pescoço. Tomou de cima da mesa uma estatueta de gesso duríssimo, recoberta de uma substância fosforescente, para ser vista no escuro, e quebrou-a toda entre os dedos, como se fosse casca de pão.

Depois de outras demonstrações de força, arrancou do soalho a poltrona com o médium e colocou-a brutalmente em cima da mesa, fora da cabina. Nem dois ou três homens fortes poderiam realizar essa proeza, tão idiota e sem gosto.

Os pesquisadores de fraudes podem negar à vontade, porque o fato é verdadeiro e de certa forma inexplicável.

Ao lado desses fatos grosseiros, assistimos a outros de grande beleza.

Cecília era um Espírito de belíssima jovem que aparecia ricamente iluminada, vestida de noiva, com um belo ramalhete de flores no braço esquerdo.

A uma sessão compareceu um assistente cego, guiado pela esposa. Quando Cecília se aproximou do casal, a Senhora exclamou

"Que pena você não poder vê-Ia! Não é uma noiva, é um anjo descido do céu!"

Nesse momento - coisa incrível! - o ramalhete de flores desapareceu, e Cecília, com as duas mãos livres, tomou as mãos do cego e levou-as ao seu próprio rosto, depois à cabeleira, fazendo que ele pelo tato lhe percebesse as formas.

O cego exclamou, comovido

"Obrigado, Cecília! O cego vê pelo tato: tua bondade me permite ver-te! Deus te pague!"

Depois, ela lhe aplicou passes magnéticos sobre os olhos e nós víamos partirem de suas mãos centelhas de luz azul.

Nosso grupo de estudiosos não procurava fraudes, só procurava fatos positivos para estudar e aprender, e obtivemos os mais variegados fenômenos. Mas houve igualmente sessões negativas, sem nenhum fenômeno e sem explicação alguma do insucesso.

Há também quem não procura fenômenos, só procura fraudes, e estes igualmente recebem o que procuram: fraudes por toda à parte, reais ou imaginárias!

Sua má fé os sintoniza com Espíritos que sentem prazer em decepcioná-los e em fazê-los ver mistificações e fraudes em todas as sessões.

Os semelhantes se atraem mutuamente: quem busca a verdade, com humildade e paciência, termina por encontrá-la; mas quem só imagina mistificação e fraude, em seus irmãos, encontra o que procura: sofre mistificações e fraudes.

Os fenômenos inteligentes são mais convincentes do que os físicos.

Um livro cheio de sabedoria, escrito harmoniosamente por um só Espírito e pelas mãos de dois médiuns, como "Sexo e Destino", ou um livro de belos versos, escritos por cento e dez poetas espirituais, em seus estilos próprios, e pelas mãos de dois médiuns de graus de cultura muito diferentes, como "Antologia dos Imortais", tem muito mais força de convencer do que uma longa série de sessões de efeitos físicos.

No Brasil já temos uma rica literatura mediúnica à disposição dos estudiosos. Quem realmente deseje aprender, deve estudar nossa literatura, começando de Allan Kardec até chegar aos nossos dias.

Essa multidão de espíritas que existe hoje no Brasil e que vão realizando uma obra social digna de todos os louvores, foi, toda ela, convencida pelos fenômenos inteligentes, não por efeitos físicos.

Esperemos que esta ampla discussão das materializações desperte maior atenção para nossa literatura, para algumas centenas de bons livros que existem em nossa língua e que o Espiritismo faça novas conquistas.

A discussão será benéfica para muitos.

Reformador – Março de 1964.

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