quinta-feira, 3 de junho de 2010

FENÔMENOS MEDIÚNICOS NA VIDA DOS SANTOS

Sylvio Ourique Fragoso



Parte IX



Santa Liduína

Liduína, não obstante sua paciência e resignação, teve, em muitos momentos, crises de revolta. Quando desencarnou seu irmão Guilherme, ela não se conformou. E sucedeu como acontece ainda com muitos médiuns. Assim se expressa seu biógrafo:

"Às vezes se mostrava um tanto leviana e imprudente. Mostrou também pouca resignação em certos períodos de seus sofrimentos, tempo que estava purificando a alma. Quando, mais tarde, ela se viu privada dos dons extraordinários que Deus lhe outorgara, reconheceu, por um secreto remorso, que tal privação fora motivada pela sua falta de resignação e conformidade (...)".

Um bispo inglês que peregrinava nas imediações do Monte Sinai, encontrou um eremita que havia dezessete anos ali morava e que comentou:

- "Na Holanda, numa pequena cidade chamada Schiedam, há uma virgem muito doente que desde muitos anos vive em jejum. Muitas vezes nos comunicamos mutuamente na luz incriada. Ultimamente uma coisa me admira: de uns dias para cá ela já não se eleva da terra e eu não percebo mais, durante o êxtase, a sua presença".

Responde o bispo:

- "Eu penso que ela se aflige mais do que convém pela perda de um parente. Deus permite isso para a humilhar. Julgo que é devido à intemperança de suas lágrimas que o Senhor a priva momentaneamente de suas graças".

Veremos logo mais que o bispo não estava longe da verdade.

Finalmente, após 38 anos de sofrimento, Liduína entra em agonia. Das sete horas da manhã até às quatro da tarde, a pobre mulher vomita quase sem cessar. Às 16 horas seu Espírito se liberta. Era o dia 14 de abril de 1.433.

Não temos notícia de como aquela alma retornou ao seu estado natural, livre da matéria. A deduzir de todo o sofrimento, Liduína traria, de existências pretéritas, imensas dívidas que veio resgatar num corpo enfermiço. Não obstante algumas rebeldias, possivelmente a moça terá encontrado a paz, pois que bem pôde suportar a maior parte de seus infortúnios. Para amenizar-lhe o sofrimento e promover-lhe o progresso mais rápido foi dotada, como vimos, de dons mediúnicos que lamentavelmente veio a perder já no fim de sua existência corpórea.

Entre os fenômenos apresentados por Liduína, podemos enumerar:

Incorporação

Clariaudiência

Clarividência

Premonição

Bilocação

Estigmatização

Vejamos, em breves linhas, alguma coisa sobre essas ocorrências.

Sobre a estigmatização, já vimos não ser, necessariamente, um fenômeno mediúnico, pois que se pode reproduzi-lo experimentalmente desde que se conte com uma personalidade altamente sugestionável.

Com respeito à audição e à visão mediúnica também já falamos. A bilocação será comentada quando expusermos a vida de Antônio de Pádua. Vejamos algo sobre a incorporação e a premonição.

André Luiz assim comenta o fenômeno da incorporação:

"Reconheci que o processo da incorporação comum era mais ou menos idêntico ao da enxertia da árvore frutífera. A planta estranha revela suas características e oferece frutos particulares mas a árvore enxertada não perde sua personalidade e prossegue operando em sua vitalidade própria".

Léon Denis faz interessante comentário sobre a forma pela qual se dá a comunicação mediúnica por esta modalidade:

"Sabemos que a mediunidade, no maior número de suas aplicações, é a propriedade que têm alguns dentre nós de se exteriorizar em graus diversos, de se desprender do envoltório carnal e imprimir mais amplitude às suas vibrações psíquicas. Por seu lado, o Espírito libertado pela morte se impregna de matéria sutil e atenua suas radiações próprias, a fim de entrar em uníssono com o médium".

"Aqui se fazem necessários uns algarismos explicativos. Admitamos, a exemplo de alguns sábios, que sejam de 1000 por segundo as vibrações normais do cérebro humano. No estado de "transe", ou de desprendimento, o invólucro fluídico do médium vibra com maior intensidade, e suas radiações atingem a cifra de 1500 por segundo. Se o Espírito, livre no espaço, vibra à razão de 2000 no mesmo lapso de tempo, ser-lhe-á possível, por uma materialização parcial, baixar esse número a 1500. Os dois algarismos vibram então simpaticamente; podem estabelecer-se relações e o ditado do Espírito será percebido e transmitido pelo médium em transe sonambúlico".

Aliás, é essa necessidade de baixamento vibratório que faz com que a entidade comunicante por vezes incida em erros, tão a gosto dos detratores de má fé ou pouco esclarecidos.

O fenômeno da incorporação é sobejamente conhecido para que citemos algum exemplo, de que haveria uma infinidade para narrar. Fiquemos, pois, com a exposição teórica de seu mecanismo.

Premonição

Esta faculdade do Espírito, constatada através dos anos e negada por aqueles que teimavam em não admiti-la, por não poderem compreendê-la, já levou muita gente às fogueiras da Inquisição e aos altares das igrejas. Hoje, a realidade de sua existência está cientificamente demonstrada e ninguém, de razoável cultura, a põe em dúvida, a não ser que interesses mais fortes o motivem.

Muitas e muitas experiências foram feitas em laboratórios e fora deles, dentro de todo o rigor científico, antes de se anunciar oficialmente a realidade das manifestações precognitivas. Tyrrel, por exemplo, fez experiências com uma máquina mandada construir especialmente para esse fim, na qual uma lâmpada se acendia em um entre cinco dispositivos. Havia também cinco botões, sendo que qualquer um deles podia por o aparelho em funcionamento. Um misturador automático fazia com que nenhum cálculo pudesse permitir saber para onde seria desviada a corrente elétrica, de sorte que se o percipiente apresentasse um número de acertos superior ao previsto matematicamente pelo acaso, era indício da paranormalidade que o levara a acertar. Um dos "sujets", Miss Johnson, ultrapassou o acaso na proporção de 100.000.000.000.

Com Croiset, o Dr. Tenhaeff realizou experiências notáveis, de que falaremos no próximo número.

março/1980

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